Qual é o melhor dia para casar?

Rui Barros e Marília Freitas, 31 jul 2018

Não se preocupem os mais céticos: não nos limitámos a ir atrás da poesia de Quim Barreiros, que assegura que é o 31 de julho. Analisámos os dados dos registos oficiais e desvendamos esta e outras curiosidades sobre os casamentos em Portugal.

Se casou em Portugal nos últimos 27 anos ou foi convidado para um dos mais de um milhão e 400 mil casamentos que se realizaram desde 1990, vai rever-se nestes números.

Os dados, cedidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) à Renascença, mostram que os casamentos voltaram a estar na moda em Portugal. Depois de terem atingido o valor mais baixo em 2014, tem sido sempre a crescer. Contudo, ainda estamos longe dos números de 1991, que dos anos em análise foi aquele em que mais portugueses casaram (71.808).

A poesia de Quim Barreiros diz que o melhor dia para casar é o 31 de julho, mesmo antes de entrar agosto. Mas os portugueses não vão em cantigas e o 31 de julho só ganha relevância quando calha a um sábado.

50/50 ou a moda do “fim-de-semana do casamento”

Se entre 1990 e 2017 foi a um casamento, há 60% de probabilidade desse casamento ter sido num sábado. Três em cada cinco bodas no período analisado aconteceram nesse dia.

Seguem-se as sextas e os domingos como o segundo e terceiro dias da semana preferido pelos portugueses. Ninguém parece querer casar à terça-feira, o dia menos popular.

Porém, a tendência está a mudar. No ano passado, houve quase tantos casamentos num dia de semana como no fim-de-semana. O destaque vai para o aumento dos matrimónios à sexta-feira.

“Há muitos noivos cuja primeira opção é a sexta-feira, depois a quinta-feira e só depois o sábado”, conta Maria Luís Teixeira, advogada e organizadora de casamentos.

Em 2013 fundou a empresa Mary Me, que ajuda os noivos a preparar o grande dia. Desde então, tem verificado uma nova tendência: o fim-de-semana do casamento. Ou seja, “o conceito de que o casamento é um convívio durante o fim-de-semana”, em que os noivos alugam uma quinta ou uma pousada, por exemplo, e fazem um programa de vários dias para os convidados.

Mas será mais barato casar a uma sexta-feira? “Na generalidade, é tudo igual”, garante a organizadora.

Antes de 2015, Maria reconhece que era possível conseguir preços mais acessíveis à sexta-feira, por exemplo, mas “o ‘boom’ dos casamentos” alterou as regras do negócio.

Se na chamada época baixa, entre novembro e fevereiro, ainda é possível negociar com os fornecedores, nos meses mais concorridos já não há direito a descontos.

“Se o fornecedor é muito bom e sabe que, de acordo com os últimos anos, vai ser sempre contratado naquela altura, porque é que vai baixar o preço naquele dia, se sabe que mais dia menos dia vai lá alguém e vai contratar?”

Fuga ao agosto

Nos últimos 27 anos, agosto ainda lidera como o mês com mais casamentos, com o média de 282 por dia. Mas a tendência está a alterar-se e setembro segue de perto, com cerca de 235 uniões por dia.

Se tem notado que há cada vez mais noivos na rua em setembro, não estranhe. O primeiro sábado do nono mês do ano tornou-se o dia escolhido por mais portugueses para casar.

Mas então o dia com mais casamentos não é em agosto? Pois era. Se até 2000 o dia do ano com maior número de casórios registava-se invariavelmente no primeiro sábado de agosto, a tendência mudou com a viragem do milénio. O primeiro sábado de setembro está agora no topo das escolhas dos noivos.

Maria Luís aponta duas razões para a “fuga ao agosto”. Primeiro, o preconceito: “dizem que quem casa em agosto é emigrante e então ninguém quer casar em agosto”.

Segundo, as férias: “a maior parte das pessoas vai de férias em agosto e em setembro já vêm bronzeados, fizeram a dieta do verão, portanto estão muito melhores para vestir um vestido”. “Os noivos também fazem férias antes, ficam morenos, têm tempo para preparar o casamento, para fazer uma dieta. As pessoas pensam nisto”, garante a “wedding planner”.

E há ainda um terceiro fator que pode ter influenciado as escolhas mais recentes: “nos últimos anos, em agosto tem chovido, então as pessoas acabam por ir para setembro”.

Mas não há regra sem exceção. Neste caso, são duas exeções: 2005 e 2007. Se em 2005 não há uma razão óbvia para o elevado número de casamentos a 30 de julho, em 2007 a explicação parece óbvia.

Trata-se do 07/07/2007 e ainda por cima calhou a um sábado. Nesse dia, celebraram-se 1.189 uniões, um número muito superior à média de casamentos por dia desse mês (200,77). Foram muitos casamentos, mas não chega para entrar no top 10.

A influência do sol

Embora sejam cada vez mais os noivos que não têm uma data pré-definida para casar, preferindo ter flexibilidade para optar pelo dia em que o espaço escolhido estiver livre, ainda há quem tenha datas especiais em mente, “porque associam a um algum episódio especial da vida deles”. Seja “anos de namoro, o dia em que se conheceram, o dia do nascimento dos filhos”, enumera Maria Luís.

Porém, o fator mais preponderante é a meteorologia. “Cada vez mais querem cerimónias ao ar livre, com “sunsets”, com entretenimento para os convidados, isso convém ser ao ar livre”, diz a organizadora. Daí que os três meses de verão sejam aqueles em que se registam mais casamentos.

Mas antes da época estival, há um mês que reúne muitas preferências. Maria conta-nos que “há muitos noivos que gostam do mês de maio, por causa de Nossa Senhora”. Maio é o quinto mês com mais casamentos, com uma média de 147 por dia.

Afinal, quanto custa um casamento?

É “uma pergunta com rasteira”, brinca a “wedding planner”. São inúmeras as variáveis que podem fazer subir ou baixar o preço da boda, desde a vista para o rio ao número de flores.

Arriscando um preço médio, Maria aponta para os 150€ por pessoa, numa quinta “sem vista rio, nas redondezas do Porto, com comida, fotografia e uma decoração básica”.

A tendência é sempre para subir. “As pessoas gostam de valorizar o espaço onde estão a casar. Querem um espaço que seja ‘wow’, que os convidados gostem e acabam por gastar mais”, conta.

Os gastos com a comida e com o aluguer do espaço são os que mais pesam no orçamento dos noivos. Porém, nos últimos dois anos, têm crescido as despesas com a decoração, sobretudo com as flores.

Maria Luís é 'wedding planer' desde 2013. Foto: Marília Freitas/RR.

“Tem muito a ver com [a rede social] Pinterest, onde as pessoas procuram muito, e com aquelas séries televisivas de casamentos, cheias de flores a cair do teto. As pessoas acabam por ver o casamento muito fotográfico”, afirma Maria. Os noivos gostam de olhar para as fotografias do casamento “e ver que estava cheio de flores, tudo muito bonito, tudo com os mesmos tons”, daí o investimento na decoração.

A antecedência com que se marca o casamento também pode ajudar a aliviar o orçamento. Quanto mais cedo, mais opções. Maria aconselha os noivos a planearem a boda com um ano e meio de antecedência. “Como há muita gente que acaba por reservar os espaços com muita antecedência, quem chega mais tarde acaba por ficar prejudicado”, adverte.

Queres casar comigo, mas não no...

Natal...

O Natal é a festa da família, e talvez por isso são muito poucos os que querem casar nos dias 24 e 25 de dezembro. Em em 2009 e 2017, o dia de Natal conseguiu ser o único dia do ano em que ninguém quis casar.

Dia de Todos os Santos...

Associado à tradição dos fiéis defuntos, que se assinala no dia seguinte, o dia de Todos os Santos é a terceira data com menos casamentos, conseguindo registar menos casamentos do que o dia 29 de fevereiro, que só acontece em anos bissextos.

1º de Janeiro

Apesar do número de pessoas a casar na passagem de ano esteja a crescer, em 27 anos, só 759 casais quiseram casar no 1º dia do ano. E nem mesmo a sequência 1/1/2001 motivou os portugueses a querer casar nesse dia - foram só 8 casamentos nesse ano.

A data menos popular para casar é o dia de Natal, seguido de perto pela véspera, ou seja, 25 e 24 de dezembro.

São poucos, mas existem, e no ano passado Maria organizou um casamento na véspera de Natal. “As temáticas eram muito giras: vermelho, branco, dourado”, recorda. Mas percebe porque é que a data é uma das menos escolhidas pelos noivos. “Se vamos convidar alguém para passar o Natal connosco num casamento, se calhar podem não gostar, querem passar com a família”, diz.

Além do mais, a chuva e o frio, típicos da quadra natalícia também não são tão convidativos para quem tem de usar um vestido de noiva. “Ou então vai de casaco”, nota Maria Luís.

Também organizar um casamento na passagem de ano não é novidade para Maria. Embora ainda seja uma minoria, “há noivos que gostam da neve, da chuva e do frio”.

Porém, casar na transição do ano pode ter custos acrescidos. “É mais caro porque tem que se pagar funcionários que não querem trabalhar na passagem de ano, porque querem estar com a família”, nota a "wedding planner. Acresce ainda o facto de vários locais habitualmente escolhidos para as festas de casamentos, como quintas ou hotéis, organizarem as suas próprias festas de ano novo.

Das datas festivas, destaque ainda para o dia de São Valentim. É época de pedidos, mas nem tanto de casamentos. O número de bodas a 14 de fevereiro tem crescido ligeiramente nos últimos anos, mas só se torna uma data relativamente popular para casar quando é a um sábado.


Os dados disponibilizados pelo INE são apurados com base na informação registada nas Conservatórias de Registo Civil, decorrente dos dados constantes dos assentos de casamento e de informação adicional prestada pelos nubentes.

Todos os dados utilizados, bem como a análise feita, podem ser consultados no nosso repositório de dados abertos.

Os dados referentes a 2017 foram apurados com base em informação registada nas Conservatórias do Registo Civil até março de 2018.

Nenhuma das datas inseridas pelo leitor na infografia é armazenada pela Renascença.